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S ABER & EDUCAR 31(2) / 2022: “100 ANOS DE PAULO FREIRE: PRÁTICAS, APRENDIZAGENS E PESQUIS AS”

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Edi- to- rial

EDITORIAL PT

Juliana Rodrigues, Universidade São Paulo (Brasil) José Luís Gonçalves, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti (Portugal)


A diversidade de ideias e reflexões do presente número temático da revista Saber & Educar, subordinado ao tema “100 anos de Paulo Freire: práticas, aprendizagens e pesquisas”, é mérito de educadores e educadoras que, nos seus diferentes contextos e práticas pedagógicas cotidianas, desenvolveram, registaram e nos revelaram a vitalidade e essencialidade do pensamento Freiriano e a sua atualidade e conexão com os desafios que enfrentamos neste momento da História.

Nos últimos quatro anos, particularmente na América Latina, a “esperança do verbo esperançar”, foi marcante em ações no campo da educação e dos direitos humanos, por vezes consolando-nos e, noutras vezes, oferecendo-nos ânimo, alimentando e provendo resistência aos educadoras e educadores para que, mesmo diante de tantas adversidades, prosseguissem com suas jornadas defendendo-se e defendendo a educação, a ciência e os direitos de pessoas oprimidas dessa onda de fascismo, nomeadamente de conservadorismo, que insiste em minar o laço social. Como diz Freire, “subestimar a sabedoria que resulta necessariamente da experiência sociocultural é, ao mesmo tempo, um erro científico e a expressão inequívoca da presença de uma ideologia elitista […] essa miopia que, constituindo-se em obstáculo ideológico, provoca erro epistemológico”.1

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Mas, felizmente, a força do esperançar de Freire, que propõe o “juntar-se com outros para fazer de outro modo”, também nos ensinou que segurar a mão do outro e “não soltar a mão de ninguém”, durante esses tempos de tempestade, nos ajudaria a construir novos caminhos por meio do diálogo assertivo, afetivo e sensível de forma a fortalecer a necessária base para a busca de caminhos melhores. Na esteira de Paulo Freire, é possível reafirmar que a ação constitui a fonte de toda a esperança:“enquanto necessidade ontológica, a esperança precisa da

prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera”.2

Neste sentido, ao festejarmos 100 anos de Freire, pode- se afirmar a força do seu legado e das suas inúmeras contribuições para a educação, que se mostram ainda presentes nas práticas pedagógicas fundamentadas na autonomia e na colaboração. Foi a partir da colaboração e da construção coletiva que foi possível resistir e reagir de formas distintas, para enfrentar os desafios educacionais que, em geral, são resultantes das desigualdades sociais que se espalham ou se ampliam por todos os continentes, inclusive entre os países com PIB elevado.

Tudo isso pode ser percebido nas contribuições vindas de África, Portugal, Espanha, Alemanha, Brasil ao revelarem que essas dificuldades e desafios muito se assemelham. Aproximam-se assim os objetivos e práticas de educadores e educadoras que buscam processos educativos que fomentem a participação democrática, a autonomia de educandos/ as e educadores/as e/ou caminhos que culminem no desenvolvimento de práticas e formações que tenham, de facto, um efeito transformador e de conscientização sobre as origens das mazelas que ainda nos afetam. O processo educativo de cariz emancipatório-libertário que o pensamento freiriano preconiza pressupõe, pois, o compromisso com uma práxis transformadora: “Na medida em que o compromisso não pode ser um ato passivo, mas práxis – ação e reflexão sobre a realidade – inserção nela, ele implica indubitavelmente um conhecimento da realidade”.3

Por fim, nesta edição comemorativa, a afirmação de Freire de que a “conscientização não pode existir fora da práxis, ou melhor, sem o ato ação–reflexão”4, é perceptível entre as práticas e reflexões das autoras e autores que, de alguma forma, e a partir das suas distintas realidades, nos mostram que a educação fora ou dentro da escola deve enfatizar a transgressão da realidade a partir da capacidade de leitura do mundo para a efetiva compreensão dos desafios que ele nos impõe e, principalmente, para pensarmos caminhos coletivos para a superação destes e a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.


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  1. – Freire, Paulo (2000). Educação como Prática da Liberdade. 24.ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 84.

  2. – Freire, Paulo (2000). Pedagogia da Esperança. 7.ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 11.ss

  3. – Freire, Paulo (1983). Educação e Mudança. 7.ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 21.


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  4. – Freire, Paulo (1979). Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. [tradução de Kátia de Mello e silva; revisão técnica de Benedito Eliseu Leite Cintra]. São Paulo: Cortez & Moraes.


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EDITORIAL EN

Juliana Rodrigues, Universidade São Paulo (Brasil) José Luís Gonçalves, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti (Portugal)


The diversity of ideas and reflections in this thematic issue of Saber & Educar Journal, under the theme “100 years of Paulo Freire: practices, learning and research”, is the merit of educators who, in their different contexts and daily pedagogical practices, developed, recorded and revealed to us the vitality and essentiality of Freirean thought and its relevance and connection with the challenges we face at this moment in history.

In the last four years, particularly in Latin America, the “hope of the verb to hope” has been remarkable in actions in the field of education and human rights, sometimes consoling us and, at other times, offering us courage, feeding and providing resistance to educators so that, even in the face of so much adversity, they continued with their journeys defending themselves and defending education, science and the rights of oppressed people from this wave of fascism, namely conservatism, which insists on undermining the social bond. As Freire says, “underestimating the wisdom that necessarily results from sociocultural experience is, at the same time, a scientific error and the unequivocal expression of the presence of an elitist ideology [...]”.1

But, fortunately, the strength of Freire’s hope, which proposes “joining with others to do things differently”, also taught us that holding the other’s hand and “not letting go of anyone’s hand”, during these times of storm, would help us build new paths through assertive, affective, and sensitive dialogue, in order to strengthen the necessary basis for the search for better paths. Following Paulo Freire, it is possible to reaffirm that action constitutes the source of all hope: “as an ontological necessity, hope needs practice to become historical concreteness. That is why there is no hope in pure waiting”. 2

In this sense, as we celebrate Freire’s 100th birthday, we can affirm the strength of his legacy and his

numerous contributions to education, which are still present in pedagogical practices based on autonomy and collaboration. It was based on collaboration and collective construction that it was possible to resist and react in different ways, to face the educational challenges that, in general, are the result of social inequalities that spread or expand across all continents, including among countries with high GDP.

All this can be seen in the contributions coming from Africa, Portugal, Spain, Germany, and Brazil, revealing that these difficulties and challenges are very similar. This brings together the objectives and practices of male and female educators who seek educational processes that encourage democratic participation, the autonomy of students and educators and/or paths that culminate in the development of practices and training that have, in fact, a transforming effect and raising awareness about the origins of the ills that still affect us. The educational process of an emancipatory-libertarian nature that Freire’s thought advocates presuppose, therefore, the commitment to a transforming praxis: “To the extent that commitment cannot be a passive act, but praxis – action and reflection on reality – insertion in it, it undoubtedly implies a knowledge of reality”. 3 Finally, in this commemorative edition, Freire’s statement that “awareness cannot exist outside of praxis, or rather, without the action-reflection act”4

, is perceptible among the practices and reflections of the authors who, in some way, and from their different realities, show us that education outside or inside the school must emphasize the transgression of reality from the ability to read the world for the effective understanding of the challenges it imposes on us and, mainly, for us to think about paths collective efforts to overcome these and build a fairer and less unequal society.


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  1. – Freire, Paulo (2000). Educação como Prática da Liberdade. 24.ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 84.

  2. – Freire, Paulo (2000). Pedagogia da Esperança. 7.ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 11.ss

  3. – Freire, Paulo (1983). Educação e Mudança. 7.ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 21.


  4. – Freire, Paulo (1979). Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. [tradução de Kátia de Mello e silva; revisão técnica de Benedito Eliseu Leite Cintra]. – São Paulo: Cortez & Moraes.


S ABER & EDUCAR 31(2) / 2022: “100 ANOS DE PAULO FREIRE: PRÁTICAS, APRENDIZAGENS E PESQUIS AS”

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